Afeganistão

 

Afeganistão

 

Nestes últimos dias, tenho pensado naquela expressão, nem sempre consensual, entre os Historiadores, “a História não se repete, mas rima”. Ao ver as imagens que nos chegam do Afeganistão, o meu pensamento foi de imediato até à Segunda Guerra Mundial. Milhares de homens, mulheres e crianças, atolados num esgoto fétido aguardando, debaixo de um sol impiedosamente quente, a autorização para sair de Cabul, fugindo da guerra, da perseguição, da intolerância, da prepotência, mas também da fome, da miséria que a seca agravou.

Um esgoto a céu aberto, coberto de seres humanos que indiferentes ao cheiro, ao lodo pestilento que lhes cobria as pernas até aos joelhos, apelavam à liberdade, à vida!

Também durante a Segunda Guerra Mundial, milhares de europeus deambularam pelo velho continente fugindo à ocupação nazi, à guerra, à intolerância, à prepotência, à xenofobia… Poucos foram aqueles que tiveram a sorte de conseguir um visto para a liberdade, para a sobrevivência…

 O Mundo viveu duas terríveis guerras mundiais, milhões de mortes, civis e militares, destruição, miséria, aprendemos alguma coisa? Não!!! Podemos fazer comparações entre estes acontecimentos? Não!! A História não se repete! Pois não! Mas continua a rimar com as atrocidades que se cometem, com a violência, com a destruição, com a miséria… A tragédia que se abateu sobre o Afeganistão, está ali circunscrito, mas não é por isso menos importante, o mundo está também ele circunscrito ao global. E não é apenas o Afeganistão, é a Síria, Moçambique, Sudão, Níger… Os conflitos estão espalhados pelo Mundo!

Hitler perseguiu os judeus, ciganos, homossexuais, comunistas, negros… E hoje, aprendemos? Aceitamos todos os credos? Judeus versus palestinianos versus muçulmanos versus cristãos…

E a liberdade de pensamento? Basta lembrar a perseguição aos jornalistas pelo governo da Ucrânia… Ou da atleta bielorrussa Krystsina Tsimanouskaya que pediu asilo político à Polónia, nestes últimos jogos olímpicos… Aprendemos??

Igualdade de género… Aqui, não só não aprendemos como bem pior, retrocedemos! Séculos de luta pela liberdade feminina, pela igualdade, equidade, dignidade…  Para os Talibãs as mulheres são meros objetos, com os seus direitos cada vez mais restringidos, se por exemplo já não podem andar sozinhas na rua, as meninas vêm limitado o seu direito de frequentar a escola…

"As várias minorias étnicas e religiosas do Afeganistão também correm o risco de violência e repressão, levando em consideração os padrões anteriores de violações graves sob o governo  Talibã e relatos de assassinatos e ataques direcionados nos últimos meses", palavras proferidas no dia 24 de agosto, pela  Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a chilena Michelle Bachelet.

Estes acontecimentos reportaram-me para um livro impressionante que terminei há dias, “Se isto é um Homem”, o seu autor, Primo Levi, relata-nos a sua própria vivência no campo de concentração de Auschwitz.  Uma obra que reflete o dia a dia dos prisioneiros naquele campo da morte. Ali, cada Homem, cada Mulher, despoja-se da sua própria dignidade e se transforma num farrapo que de humano tem apenas o esqueleto. Homens e Mulheres eram espezinhados nos seus corpos e no mais profundo do seu ser, por outros “Homens“ e “Mulheres” que não lhes reconheciam quaisquer direitos! Nem tão pouco qualquer identidade, reduzidos apenas a um número tatuado no braço… Os dias não tinham amanhã, dias de morte lenta que só alguns conseguem transpor e chegar ao dia da Libertação!

Aprendemos? Não!!!

Afeganistão não é Auschwitz… pois não…

Mas o que acontecerá aos milhares afegãos agora que o último avião dos Estados Unidos saiu daquele território? 

A História não se repete mas quantas rimas serão necessárias para que este Mundo seja verdadeiramente um lugar de Paz?

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