Quando o fim chegar...
Quando o fim chegar...
Quero escrever sobre a eutanásia, um tema delicado, íntimo até, doloroso, inquietante e por tudo isto: muito importante!
Falar da morte é tão importante como falar da vida. Ser mãe, foi por exemplo, o meu maior desafio enquanto mulher. Dar a vida a uma criança é uma enorme responsabilidade. Mas todos sabemos que o nascimento quase se banalizou, perdoem-me a crueza da palavra, mas nem sempre nascer é um ato de amor, de amor responsável...
Mas voltemos à morte! Sim, é dura esta palavra! E mais dura se torna nesta nossa mentalidade judaico-cristã em que quase todos nós nascemos e fomos educados. Portugal, país tradicionalmente católico, mas um Estado laico, aprovou a lei da morte medicamente assistida, que fez e ainda há-de fazer correr muita tinta.
Eu também me interroguei, (e interrogo) muitas vezes da legitimidade dessa decisão dizer única e somente respeito àquele que quer morrer. Mesmo que eu entenda esta lei, a morte assusta-me, mas assusta-me muito mais o sofrimento e não falo apenas do sofrimento físico, este cada vez mais controlável pelo avanço da medicina, assusta-me o "esquecimento", a vida vestida de morte, vestida de compaixão, de egoísmo, vestida de "faz-de-conta"...
Ao longo dos meus 60 anos fui aprendendo e amadurecendo como pessoa, como mulher e como mãe. Com os meus 60 anos e com os meus parcos conhecimentos de História, aprendemos sim, quando folheamos os livros e vamos avançando para o passado e então, nos deparamos com os inúmeros atropelos que o Homem cometeu ao seu semelhante!
Por isso me espanta que determinadas ideologias que votaram contra esta lei, no nosso Parlamento, se emudeçam perante as atrocidades que, no século XXI, ainda se cometem em países, em povos "satélites"...
Não apregoem demagogias hipócritas, invocando os direitos humanos! Não me façam recordar genocídios, holocaustos, bombas atómicas, não me façam recordar inquisições... Tudo em nome da civilização, das raças puras, tudo em nome da PAZ, tudo em nome de DEUS!
Ninguém quer morrer, mas deixem-me decidir quando esse tempo chegar.
Deixem-me confiar nos médicos que nos acompanharão nesse desfecho. E não me falem em egoísmo de quem escolhe a sua forma de partir, quando a vida já lhe levou todas as razões para permanecer, toda a dignidade de ser chamado HUMANO. Insisto sim neste vocábulo: DIGNIDADE! É por ele que esta lei existe mas acrescentemos um outro, não menos importante: LIBERDADE!
Liberdade de escolha, o livre arbítrio que os Humanistas do Renascimento nos ensinaram, mesmo Homens de Fé, proclamavam a Liberdade como um verdadeiro desígnio de Deus. É esta a nossa condição de Humanos, com ou sem Fé, escolher o nosso caminho até onde a nossa dignidade nos quiser levar.
Tema inesgotável este, fica o meu desabafo e a minha certeza como pessoa: que eu possa decidir quando o fim chegar...
D.P.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarObrigada por este cantinho onde posso vir beber das tuas palavras que são um bálsamo para a alma. 😘
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