Às minhas alunas
Às
minhas alunas
Para
celebrar estes dias de chuva, resolvi “ir” ao cinema, em casa, claro!
Procurava, por um lado, uma motivação para as minhas aulas de 9º ano e por
outro, aliviar este tempo de confinamento e descontrair um pouco. Já conhecedora
da história desta película, não deixei a curiosidade de lado. Como não sou
crítica de cinema, centrei-me apenas na história que se baseia em factos reais:
a luta das mulheres inglesas pelo seu direito ao voto: “As Sufragistas”!
O
filme retrata a Inglaterra do início do século XX, mas por incrível que pareça,
essa luta ainda continua em algumas partes do Globo, em pleno século XXI!
Quero,
na próxima aula do 9º ano, onde abordaremos o tema, “Os Loucos Anos 20”,
mostrar aos meus alunos que esta luta ainda não está terminada e que Mulheres e
Homens devem participar na vida política e social de forma equitativa e
fraterna. Mostrar-lhes que só assim poderão, eles e elas, (alunos) construir um
mundo mais justo, democrático e liberal do que aquele que o passado nos deu.
Continuamos a precisar de Mulheres e Homens conscientes das suas capacidades
mas também das suas fragilidades, para que todos alcancem as suas metas e
cumpram os seus sonhos.
O
exemplo das mulheres que atravessaram todo o século XX, algumas começaram ainda
no XIX, lembremos o pioneirismo da Nova Zelândia, em 1893!, lutando pelos seus
direitos, seja uma inspiração para todas as minhas alunas, que dão como
adquirida toda a liberdade de que hoje desfrutam. E para os meus jovens alunos,
sejam estas mulheres, uma imagem de respeito e igualdade!
Sem
querer ser fatalista, preciso dizer-lhes (a todos!), que a luta continua, que
de uma forma ou de outra, não podemos facilitar, não podemos “baixar a guarda”.
Os ideais políticos são muito débeis e rapidamente se desmoronam perante
demagogias extremistas. Quero, com estes exemplos, combater a letargia dos
jovens que deixam, para os mais velhos, as decisões sobre as suas próprias
vidas. É preciso acordá-los, abaná-los até! Esta passividade pode convertê-los
em “presas fáceis” de ideais mais sombrios...
Se
fizermos um breve estudo, não tem de ser exaustivo, pois o século XX está ainda
ali, podemos sentir-lhe ainda o respirar, e perscrutarmos a linha da frente
desta luta pelo sufrágio feminino, constatamos que aquelas mulheres tinham uma
formação académica superior. Recordemos algumas mulheres portuguesas. As
médicas, Beatriz Ângelo e Adelaide Cabete, ou as escritoras, Ana de Castro
Osório, Maria Lamas, Carolina Michaellis de Vasconcelos, Maria Amália Vaz de Carvalho e
Manuela Azevedo, esta última, atravessou dois séculos, morrendo com 105 anos,
em 2017, tendo sido a primeira jornalista mulher com carteira profissional no
nosso país! Faço questão de referenciar as mulheres portuguesas, é uma honra
para mim, citar os seus nomes, apenas os nomes pois as suas obras são demasiado
grandes para serem aqui, apenas citadas! Escritoras, professoras, poetisas,
jornalistas, tradutoras, médicas, engenheiras… O importante é que souberam
liderar, trouxeram para as suas fileiras, as “outras” mulheres, sim, as
“outras” e estas permitiram-se conduzir, não de uma forma acéfala, seguiram-nas
porque viam na causa um passo em frente pela sua libertação, pela sua condição
digna de ser mulher. Seguiram-nas as verdadeiras mulheres, aquelas que sentiam
no âmago do seu ser o sacrifício do trabalho tantas vezes desumano e injusto,
da doença, da violência doméstica e patronal, na fome, na maternidade
indesejada e dorida… no desencanto de uma vida infeliz… Neste Portugal
republicano, onde o índice de analfabetismo chegava quase aos 80% da população,
estas mulheres não desistiram e lutavam por “igualdades justas e humanas”, cito
Adelaide Cabete.
Foi
um longo caminho o que este punhado de mulheres teve de percorrer, uma era
republicana agitada e tão controversa e que morreu tão jovem, 1926! E daí nasceu
o negrume sem fim da ditadura militar e Estado Novo até ao alvorecer da
Liberdade do 25 de Abril de 1974! A nossa história tem de ser contada!
As
líderes destes movimentos, e agora olho também para o resto da Europa, na
Inglaterra, por exemplo, tinham a capacidade da palavra, do argumento, do
capital até!, mas era uma luta para todas e só todas puderam fazer a diferença!
Foi preciso o sacrifício de prisões, de greves de fome, da humilhação pública,
mas também de cumplicidade entre todas, da coragem de enfrentar com o próprio
corpo a brutalidade da carga policial, ou mesmo pagar com a própria vida, como
foi o caso da inglesa, Emily Davison, para conquistarem um direito intrínseco e
justo: o voto!
Foi
preciso mais de um século!
Quero
que as minhas alunas olhem à sua volta, olhem para as suas mães, para as suas
avós que ainda as acompanham e sintam que elas, jovens adolescentes, precisam
de preservar o que foi conquistado, que todas precisam de continuar o caminho
que o passado iniciou! O direito ao voto foi apenas mais um direito! Quero que
reflitam, votar era também poder ser eleita! Poder decidir! Poder falar! Poder
construir! Poder dizer, não! Numa sociedade comandada por homens, o voto das
mulheres começaria a minar esse poder instituído, tão velho quanto a própria
vida humana!
Se
puderem, vejam o filme. Um filme simples mas cheio de História!
D.P.
Onde e quando as mulheres tiveram o direito de votar
https://uvesp.com.br/portal/noticias/este-mapa-mostra-o-ano-em-que-as-mulheres-tiveram-o-direito-de-votar-em-cada-pais-do-mundo/
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